Por que Mcluhan?
Tudo que esta aqui foi motivado, pensado imaginado levando em conta os conceitos e possibilidades que ele levantou, particularmente na "Galaxia de Gutenberg'".
Este trabalho é um mosaico, no melhor estilo de McLuhan.
Procurei aproximar mais do senso comum e evitar a descontinuidade e aparente desconexão que é o traço de McLuhan. Fiz isto carregando nos aspectos visuais, que me parecem preenchem o "gap" tão criticado da imprecisão de que ele é acusado e com certeza serei eu tambem.
Apesar dele não ser bem aceito academicamente, parece que estão acordando para a validade e oportunidade dos conceitos que ele trouxe para o pensamento humano. Ou melhor, conceitos, não, porque êle é notoriamente "fraco" (nao sei como qualificar...) de conceitos, ele se explica, porque não ha como justificar, que "meio tijolo quebra muito bem a vidraça"... Portanto, isto aqui, também segue seu critério, que é o de se aproximar da literatura, não como assunto, mas discutida em termos de sua aplicação à observação da realidade como percepção, que tipo de "realidade" cria ou recria, e o que resulta disto. Isto está feito principalmente vendo a literatura como função.
O artigo da Profa. Elena Lamberti - University of Bologna, coloca isto numa "perspectiva acadêmica". O livro dela, discute isto.
Fiz um Manual do Usuario da Galaxia de Gutenberg, cujo primeiro uso (na verdade segundo, como explico mais abaixo) é este trabalho sobre Ulysses de James Joyce.
Deste manual extraio, para sintetizar porque fiz isto, a introdução do Prof. Anisio Teixeira e o bloco 31:
Apresentação da edição brasileira (Prof.Anisio Teixeira) (11)
Um dos pensadores do pensamento contemporâneo.
Apresenta um novo ângulo pelo qual procura desvendar as origens e o modo por que se formou o que chamamos o espírito moderno, nossa visão do mundo, nosso modo de ser e existir, nossa cultura.
Ele não pensa ideologicamente, teorizando sobre a natureza humana ou a sociedade, mas é como se revelasse uma fotografia, buscando ver e descrever o que se passou com a evolução do homem em desenvolver-se e criar seu mundo, inventando as tecnologias que estenderam os sentidos e o poder de formar suas culturas.
Nós nos tornamos "indivíduos", somos "publico", pertencemos ao "Estado" e às "Nações", possuímos "pensamento cientifico", somos "secularizados", porque somos homens Gutemberguianos e McLuhan desconstroi isto com tal penetração e originalidade, que provoca verdadeira vertigem quando percebemos onde ele quer chegar.
Ele já apontava no fim dos anos 60 algo que está explodindo diante de nossos olhos, estamos voltando a cultura tribal de períodos anteriores, aliás em obra posterior ele menciona a "Aldeia Global" no fim dos anos 60, inclusive apontando para o problema da
A Galáxia de Gutenberg (31)
Um conceito de McLuhan
que neste livro ele abre explicando e que percorre todo o livro é a questão
da perspectiva tridimensional
verbal na literatura em oposição
ao que ele afirma ser
"A escolha arbitraria de uma única posição
estática (que) cria um espaço pictorial com ponto de fuga."
Que tem como conseqüência:
"Esse espaço pode ser preenchido trecho por trecho e difere inteiramente
do espaço não pictorial em que cada coisa simplesmente ressoa
ou modula seu próprio espaço visualmente em forma bidimensional."
Ele usa varias formas para demonstrar isto ao longo do livro, e abre com a peça
de Shakeaspeare Rei Lear, como:
"Perfeita ilustração do processo de despojamento sofrido
pelos homens, ao passarem de um mundo de papéis ou funções
para um mundo de ocupações ou tarefas."
McLuhan usa o exemplo da peça de Shakeaspeare para explicar a modificação
ocorrida quando da introdução da cultura a partir de livros impressos
com a tecnologia de Gutenberg, discutindo a questão da visualização
empregada pelo autor.
Embora isto reconhecidamente tenha ocorrido e McLuhan tenha razão ao
afirmar que Shakeaspeare foi o primeiro a usar perspectiva tridimensional, o
exemplo é terrivelmente ruim para entender
o que isto significa.
Os homens passaram de um mundo de papéis para um mundo de tarefas.
Ele afirma ainda que Cervantes com seu D.Quixote teria tido a mesma idéia
e creio que a obra de Cervantes se presta muito mais para entendermos o que
estava acontecendo com a modificação de visão de mundo
que Rei Lear. Talvez eu o faça em separado, já que ele mesmo não
o fez, mas por ora, vamos nos ater ao livro.
O mundo da audição é mágico e o da visão
é neutro e isto provoca uma destribalização e uma ruptura
entre o coração, centro do efeito de ver o mundo oralmente e do
cérebro, centro de ver o mundo pela visão.
Ele chama esta ruptura entre a mente e o coração de esquizofrenia,
que em Inglês usa a palavra "split", que é rompimento
ou divisão em duas, como o caso da esquizofrenia.
Acho muito oportuno repetir aqui as considerações que ele faz
indicando que:
"...Cícero, o enciclopédico e sintetizador do mundo romano,
quando investiga o mundo grego, reprova Sócrates por ter sido o primeiro
a criar uma cisão entre o espírito e o coração.
Os pré-socráticos, em geral, encontravam-se ainda numa cultura
não alfabetizada. Sócrates achava-se na confluência entre
aquele mundo oral e a cultura visual e alfabetizada. Mas nada escreveu. A Idade
Média considera Platão como simples escriba ou amanuense de Sócrates.
E Tomas de Aquino considerava que nem Sócrates nem Nosso Senhor puseram
por escrito seus pensamentos, porque a espécie de interação
das mentes que é ensinar não é possível por meio
da escrita, conforme ele cita em latim e eu transcrevo: Utrum Christus debuerit
doctrinam Suam Scripto tradere. Summa Theologica, 3ª parte, q.42, at. 4.!
McLuhan faz uma interessante consideração
sobre o que nós consideramos como "civilizado", que é
a cultura estruturada sobre livros escritos pelo processo inventado por Gutenberg,
na verdade é uma coisa grosseira e um retorno a barbárie, quando
comparada ao tipo de civilização que o sistema do uso do alfabeto
fonético e as escritas a ele associadas produziram.
Outro aspecto que ele enfatiza que o tipo de orientação visual
auditiva, oral que havia na mentalidade não alfabetizada eram muito mais
propícios aos modernos conceitos mais avançados sobre arte e ciência
e que sofremos um atraso por isto.
Ele acha que o uso da eletricidade (leia-se eletrônica, Internet, computador),
nos empurra de volta para uma orientação no sentido anterior,
coisa que, gera uma controvérsia ignorante que se agarra no "conteúdo",
quando a chave do problema esta no processo.
A leitura dos manuscritos da cultura oral, como as iluminuras, por exemplo,
era coisa demasiado lenta e desigual e jamais conduzia a um ponto de vista fixo
ou seja, o habito profundamente arraigado em nós "cultos",
de deslizar firmemente em planos únicos de pensamento e informações.
Pensei como trabalho do
uso das idéias de McLuhan construir um exemplo da dicotomia apresentada
acima em verde seu efeito desapercebido em vermelho, com a Biblia
expresa na Catedral de Chartres e a Biblia
nos moldes que Gutenberg nos legou, mas interrompi e iniciei este com
Ulysses, que é mais simples e creio que desperta mais interesse.